É da idade

É muito comum entre pacientes e familiares falar que alguma alteração que acontece com o idoso se deva à idade.

Em termos médicos, uma alteração normal devido a idade tem o nome de “senescência“, que é sinônimo de envelhecimento saudável.

Um exemplo de alteração advinda da senescência é o embranquecimento dos cabelos.

Ter cabelos brancos normalmente é “da idade”. Mesmo assim, há condições em que algum indivíduo pode ter cabelos brancos em idade mais precoce, a depender da genética. E também doenças em que ocorre o aparecimento de cabelos brancos em idade inesperada, aí valeria a pena investigar alguma condição.

É diferente de perda de dentes, por exemplo.

Há quem possa pensar que perder os dentes quando se é idoso como algo natural, sendo necessário o uso de próteses dentárias, ou implantes. Porém o envelhecimento natural não prevê a queda de dentes. Ou seja, ainda que seja algo comumente visto entre idosos de hoje, isso se deve mais aos fatos de no passado o acesso à saúde bucal ser mais escasso, além de se dar menor importância à preservação dos dentes, e a fatores sanitários, como ainda não se ter água fluoretada.

Portanto, vemos que só pelo fato de algo ser comum aos idosos de hoje, isso não torna esse fato causado “pela idade”. E o caso dos dentes é um bom exemplo.

Com as mudanças culturais e maior acesso à saúde bucal, no futuro breve a maior parte dos idosos manterá a dentição natural, mudando-se, portanto, esse estigma da falta de dentes naturais.

Em resumo, a perda de dentes seria algo que não pertence ao envelhecimento natural saudável (senescência), e sim a algum problema de saúde durante o envelhecimento, ao que chamamos de senilidade. Senilidade é, portanto, o envelhecimento não-saudável, em que ocorre algum problema específico.

Ainda é muito comum ouvirmos de parentes de idosos e até de colegas médicos sobre a “demência senil“. Costumo dizer que a demência até pode ser “senil”, mas a justificativa para ela jamais será da própria idade. Demência tem causa: pode ser por doença de Alzheimer, pode ser por causa vascular, por doença de Parkinson… nunca é “da idade”.

Infelizmente, o que acaba acontecendo é o paciente ter seu diagnóstico atrasado por causa da falsa impressão de que o esquecimento seria algo “da idade”.

Na prática, a mensagem é sempre suspeitar de alguma doença. 

Sentir dor não é “da idade”, cair não é “da idade”, enxergar mal não é “da idade” – tem doenças que justificam essas condições e precisam ser diagnosticadas para serem tratadas.

Também ficar-se atento e observar no idoso, com quem se convive, as alterações que ele vai apresentando no decorrer do tempo. Poder conversar com ele e perguntar se ele está percebendo as mudanças. A ideia é sempre investigar a causa e propor o melhor encaminhamento, de preferência preventivo, através de consultas periódicas e exames.

Essa é uma das formas que podemos melhorar a qualidade de vida dos idosos em seu processo de envelhecimento. 

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