Encontrar, o desígnio de quem vive

“A vida é a arte do Encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Esse verso do poeta Vinícios de Moraes dá a trama para as linhas de hoje. O Encontro, desígnio de quem vive, é termo abundante nas teorias psicológicas, por sua inextricável importância da saúde integral de qualquer sujeito. Hoje, Encontro e não encontro, para sugerir que há uma diferença entre ambos. Encontro trata de uma espécie de convocação, não basta esbarrar em alguém por coincidência na rua em um dia qualquer, é para além, é fazer-se presente, é um apelo que visa a abertura para a sensibilidade, a própria e a do outro, é conviver, é comemorar, é mutualidade, é simultaneidade.

O Encontro, tão importante em razão de sua raridade, parece mesmo ser uma experiência essencial, para a qual a sensibilidade é absolutamente imprescindível, assim como a comunicação e a troca; experimentar o outro pelo que ele diz, ou comunica de outros modos, e permitir que ele também nos experimente. A preciosidade do Encontro está justamente na indispensabilidade da mutualidade, não basta, portanto, que somente um seja ouvidos, acolhimento e entendimento, é preciso nutrir-se reciprocamente em uma incansável postura de respeito e respaldo.

É preciso, pois, também, estar perto – perto de disposição, de alma, de espírito, de afeto – para transtrocar perspectivas, alegrias, amarguras, benesses, cansaços e tantos mais As, Bs ou Cs quanto existirem. Não há limites, não há restrições, até o silêncio serve e serve bem, visto que o Encontro é absolutamente livre, acontecido entre pessoas livres para serem quem são na justaposição de seus seres. O imprescindível é tão somente que o outro seja valorizado como alguém digno.

Encontrar é renovador, é produtor de harmonia, transmite confiança na receptividade do outro e erige um sentimento de cumplicidade que é capaz de revelar o quanto a essência humana é desprovida de formas e limites. Mas, acima de tudo, Encontrar cura, aquece e reanima aqueles que, depois de muita vida, sofreram já vários desencontros; desencontros pela morte, pela distância ou pelos acasos do viver. A sabedoria conquistada com a idade e com a experiência dos desencontros anteriores é trunfo e triunfo para a arte de Encontrar.

Amigos, apesar de não os únicos, são mestres na arte de Encontrar e, para tanto, valho-me, para encerrar, das palavras de um mestre amigo, Tom: “Encontro é quando duas pessoas, num dado instante, harmonizam suas vidas, suas histórias não contadas e contadas, suas vozes, sua complementariedade em ação. Esse Encontro é de duas existências, dois viveres, dois sentires, dois perceberes, dois agires. Por isso, quando acontece é tão pleno para quem vive”. Deveras, o Encontro é uma arte, é um bálsamo.

 

 

Solange Kappes

Psicóloga Clínica CRP 0572377

Contato: psicologasolangekappes@gmail.com

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