Envelhecer é o único meio de viver muito tempo

Albert Camus escreveu um poema sobre envelhecer, que inicia com o verso que intitula nosso diálogo de hoje: “Envelhecer é o único meio de viver muito tempo”. Intento trazer alguns poucos versos deste poema e refleti-los. Envelhecer pressupõe, inevitavelmente, a passagem do tempo, não é um fenômeno que acontece somente depois dos sessenta anos, está acontecendo neste exato instante, com cada um de nós. Se um tempo maior de vida for o desejado, o envelhecimento será o preço. Preço alegre ou preço triste? Triste, talvez, se encarado pela via da perda da juventude. Alegre, se for possível entender que mesmo velho, ainda se é jovem, porém com muito mais esforço associado.

 

A passagem do tempo nos conduz para distintos valores ou metas ao longo da vida. Aos vinte anos, importamo-nos muito com a beleza, aos trinta com a força, aos quarenta com a riqueza e aos cinquenta com a sabedoria; se assim não for, cada preocupação a seu tempo, é provável que nunca se venha a tê-los. “A cada idade cai bem uma conduta diferente”. Afinal, o envelhecimento é uma grande construção, etapa por etapa, que oportuniza a despedida da bobeira e o encontro com a serenidade e a experiência.

 

O poeta escreve: “Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz. A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos”. Envelhecer significa também arrefecer o calor do desejo e da vontade em favor da razão, do juízo e do remanso. Jovens são tribais, adultos estão em casais e velhos, em geral estão sós. Não há, portanto, ocasião melhor para a sabedoria que na velhice. Sabedoria que permita ver o próprio percurso na vida, que autorize a chegada da velhice sem tentar negá-la, que na contemplação de um jovem seja capaz de compreender-lhe suas tolices e que quando se fizer a solidão, esteja capaz de sentir-se muitíssimo bem acompanhado de si.

 

Camus finaliza seu poema escrevendo: “Não entendo isso dos anos, que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los”. Não somos os senhores do nosso tempo, no entanto, podemos conduzir a dança da vida de modo que os passos sejam lindos e melódicos.

 

Solange Kappes

Psicóloga Clínica CRP 0572377

Contato: psicologasolangekappes@gmail.com

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