Nas páginas de sua obra intitulada Ensaios: que filosofar é aprender a morrer, Michel de Montaigne, imortalizou essa reflexão profunda sobre nossa condição humana. Ao explorar a sabedoria adquirida com o passar dos anos, ele nos lembra da importância de encarar a finitude da vida com coragem e compreensão, privilégio conquistado, muitas vezes, a duras penas.
Convido-os, hoje, a contemplar o envelhecimento como um caminho de descobertas, ao menos é assim que tenho feito, sobretudo desde o início deste exercício de escrever-lhes. É no caminho da vida que nos confrontamos com a inevitabilidade da morte, obrigando-nos a questionar, por vezes, o significado de nossa existência e a buscar uma vida que carregue algum propósito. O processo de envelhecer é, portanto, uma oportunidade valiosa de crescimento e expansão de nosso universo interior.
Desejo lembrá-los de que encarar a morte de frente pode ser uma postura que auxilia a viver, e, talvez, de maneira extremamente autoral. Ao abraçar a finitude, pode-se aprender a valorizar os momentos, os pequenos instantes do cotidiano em há alegria e, talvez, não percebamos; pode-se, ainda, intentar por nutrir relacionamentos significativos. A consciência da brevidade da vida nos convida a aproveitar cada instante como se fosse único, e cada instante sempre é, por si só, inédito e singular.
Constata-se que a morte é um aspecto inerente à condição humana, e sua aceitação pode trazer serenidade. Aprender a morrer significa reconhecer que todos compartilhamos o mesmo destino – destino aqui entendido como fim – compreendendo que fazemos parte da natureza e de que ela nos retornará ao pó. Essa perspectiva nos guia a enfrentar a morte e, sobretudo, a viver com coragem, já que existir é sempre um risco.
Envelhecer, aprender a morrer e encontrar, quem sabe, algum significado em nossa trajetória estão interligados. À medida que a idade avança, adquire-se sabedoria e maturidade, não sem esforço, evidentemente. Aprende-se a encarar a morte não apenas como um evento isolado ou distante, mas como um componente intrínseco de quem fomos, somos e viremos a ser, ou deixar de ser. Por fim, envelhecer é um chamado à sabedoria sobre a morte, e é, também, um convite para apreciar a existência em sua efemeridade.
Solange Kappes
Psicóloga Clínica CRP 0572377
Contato: psicologasolangekappes@gmail.com