Envelhecer, quando é quase lei rejuvenescer!
Em nosso tempo, envelhecer é um verdadeiro inferno. A afirmação é chocante, evidentemente, mas está respaldada sobre uma série de fatores, como a crescente necessidade de amparo psicológico entre os mais velhos, a hiper valorização do novo, do jovem, do que é inovador (não atoa vivemos a febre dos procedimentos estéticos que visam esconder os traços do envelhecimento); que é resultante, inclusive, de uma obsessão enlouquecera pelo progresso, pela modernização e pela técnica. Como, então, haveríamos de esperar que, enquanto sociedade, soubéssemos valorizar o velho? passamos até mesmo a entender o termo ‘velho’ como pejorativo.
Não há pretensão de saudosismo nessas linhas, mas notem, décadas atrás, o valor que atribuíamos aos velhos era muito superior ao atual; não havia uma estratificação tão gritante dos sujeitos por grupos etários e éramos capazes de integrar e ouvir os idosos como vozes dotadas de experiência, maturidade e alguma sabedoria. Indubitavelmente a experiência de vida imanta o sujeito de conhecimentos que os mais jovens não tem. Em contramão, na atualidade, a desvalorização é crescente e o que mais ouve-se dos idosos em consultório são queixas de solidão, tratamentos infantilizastes e sentimento de inutilidade.
Envelhecer é difícil, também, porque não acontece de forma necessariamente conjunta entre psique e corpo físico. Quantos são os relatos que sinalizam a conservação da vontade de manter-se ativo ante um organismo que oferece seus limites. Outra questão são as perdas, os lutos, muitas vezes sucessivos, das pessoas amadas. Envelhecer acontece às custas de atravessar uma vida que oferece suas mazelas, e quando se consegue sair da infantilidade e da imaturidade, em geral a duras penas, surgem os verdadeiramente infantis e imaturos tratando os velhos como se eles tivessem se transformado, novamente, em crianças.
Isto posto, é evidente que um desafio se impõe, e não sem tempo, afim de que possamos pensar em alternativas para o cuidado, conservação e manutenção do bem-estar, da saúde, do convívio e da dignidade dos idosos. Este pensar deve, necessariamente, integrá-los às discussões, tanto nos espaços sociais como no reduto familiar. Perdemos se não soubermos fazê-lo, perdemos afetivamente, perdemos moralmente e nos afastamos de um sentido para o viver que tem potencial de transpor o existir pela utilidade e pelo trabalho.
Finalizo este primeiro texto apontando para minha pretensão de acolher, compreender e orientar, sem, no entanto, fazê-lo baseada somente em sustentações técnicas ou teóricas, mas em um exercício que pretende a observação do real, um diagnóstico do contexto e do cenário de forma crítica